Cidades das máquinas. Cidades dos automóveis

Aldo Paviani*

 

Em 200 anos, houve avanços significativos de certos instrumentos para abrandar as tarefas executadas pelas pessoas, no campo e nas cidades. Ao analisar a vida urbana, nota-se que há poucos exemplos enaltecidos, porque parece natural utilizarmos elevadores, computadores, celulares, tablets, máquina de lavar louças, aviões, automóveis etc. Todavia, nada se compara aos dois últimos para a vida moderna. Aviões atravessam os ares em todos os continentes, encurtando distâncias, com ligações intercontinentais de até 17 horas, sem escalas. Daremos foco ao automóvel, ícone do século passado e dos anos em curso. Cada vez há mais facilidade em oferecer veículos, pois as montadoras se globarizaram e há indústrias que apenas juntam peças vindas de outros países. É mito afirmar que \”esse carro é nacional\”.

Por isso, o uso do automóvel se torna cada vez mais universal e popularizado. Há tantos modelos e opções de compra que cabem no orçamento de compradores de diferentes classes sociais. Na mídia especializada, nota-se enorme oferta de automóveis e utilitários. Esses veículos, a cada dia, passam a ocupar mais espaço urbano a tal ponto que as grandes cidades passaram a enfrentar desafios. Um deles é dar fluidez à circulação e solucionar os engarrafamentos de trânsito. Às vezes, a circulação de veículos requer o uso seletivo das vias, isso é proibir que caminhões entrem no território central. Para tal, anéis viários são construídos na periferia das metrópoles. Essas vias atraem serviços auxiliares para os que nelas trafegam: postos de combustíveis, oficinas mecânicas, hotéis, armazéns e restaurantes, que facilitam a descentralização das atividades e melhoram o acesso dos trabalhadores aos empregos.

A utilidade básica dos veículos – automóveis, ônibus, trens – é transportar pessoas para os mais diversos fins, como para o trabalho, empreender viagens, levar crianças para a escola e muitos outros objetivos. Esses trajetos, por exemplo, são da casa para o trabalho e vice-versa. Mas muitas viagens requerem que os veículos estacionem em algum ponto no destino. Por isso, além de facilitar a circulação com a abertura de vias, os administradores urbanos devem dar condições de estacionamento. Atualmente, até pequenas cidades enfrentam verdadeiro nó ou desafios para encontrar espaços para estacionamento. Há cidades que privatizam esse serviço, no qual guaritas marcam a entrada do veículo, oferecem vaga e cobram na saída. Ora as municipalidades cobram, ora instituem a zona azul, para o controle do tempo de estacionamento. Outras cidades bloqueiam acesso ao centro histórico da cidade e instituem os bolsões de estacionamento, aos quais há aderência para que o centro se livre do trânsito pesado e reduza o ruído e a poluição do ar a fim de melhorar a qualidade ambiental.

Em Brasília, caminha-se para um misto de cobrança por zona azul e estacionamentos em bolsões. Estes poderiam ser implantados no Parque da Cidade, na grande área do Estádio Mané Garrincha e em pontos ao fim das asas Sul e Norte (essas ainda devem ser preparadas para abrigar veículos). A capital federal, e sobre isso há concordância geral, não pode, às primeiras horas da manhã, receber milhares de veículos, como nos dias atuais, e ver que o fluxo de veículos tem estrangulamento em pontos conhecidos, ao longo dos principais eixos, que são as estradas parque Núcleo Bandeirante, Taguatinga e Indústria e Abastecimento. Todas elas receberam melhorias e alargamento das pistas para dar conta do tráfego – tarefa nem sempre acompanhada de melhoria nos abrigos de ônibus – as \”paradas\”. Ademais, as BRs, todas elas também confluem para o Plano Piloto – a BR-080, BR-070, BR-060, BR-040 e BR-020 – e se mostram apinhadas no início das manhãs e ao fim da tarde, com trânsito de refluxo. O commuting exaspera os que devem se submeter a esse tráfego diário. Nos últimos anos, foram instituídas as pistas exclusivas, por onde trafegam apenas ônibus, ambulâncias, bombeiros e táxis. Caminhões e carros particulares são multados se trafegarem por essas vias exclusivas. Trata-se de paliativo que não influi na grande massa em circulação.

Qual é, então, a saída? Aumentar a eficiência do transporte coletivo. Implantar o BRT, que poderia confluir e interligar todas as regiões administrativas. Retirar, ao máximo, os veículos de transporte individual. Implantar o trem metropolitano para interligar os municípios do colar do Entorno, situados em Goiás. Por fim, descentralizar as oportunidades de trabalho para que se tenha trafego diário no sentido inverso ao atual – o efeito sanfona.


» ALDO PAVIANI – Professor emérito da UnB e diretor da Deura/Codeplan
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