A MP do ensino médio e suas inovações

Eda C. B Machado*

Publicado no Correio Braziliense  

Por que será que o Brasil nunca teve ninguém recebendo o Prêmio Nobel? E por que poucos jovens têm se destacado e vencido as Olimpíadas de Matemática? Por que, entre as 100 escolas de melhor performance no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), cerca de 70% pertencem ao Estado do Ceará?

São perguntas que precisam ser respondidas com urgência e sem medo de se descobrir as verdades que temos, por diversas razões, escondido…

Steve Jobs não se diplomou em universidade, mas cumpriu a promessa de colocar sua marca no universo. E o mundo inteiro falará sobre ele por todos os tempos, assim como repetimos os nomes de Michelangelo, Galileu e muitos outros, citados milhares de vezes pelas universidades de todo o mundo.

Para inovar, é preciso pensar diferente, agir diferente e fazer a diferença. As escolas    – desde a educação infantil até o ensino médio – e as universidades são as responsáveis pela formação de cidadãos capazes de mudar o mundo. Se quisermos melhorar a qualidade da educação brasileira, será preciso que inovações sejam introduzidas urgentemente em todos os níveis de ensino.

Sabemos que cabe à escola a formação dos estudantes. No entanto, é preciso que os pais entendam bem o seu papel na orientação e educação social de seus filhos. Dependendo dos seus exemplos e comportamentos, a criança crescerá mais orientada para se tornar autônoma e independente, confiante e sem medo de arriscar e errar, com capacidade de se adaptar a ambientes flexíveis ou muito estruturados.

E será preciso que nossos professores inovem no seu ensino, que não tenham obrigação de sempre ter a resposta certa para as perguntas de seus estudantes… Antes de tudo, os professores têm o papel de desenvolver a autonomia e o espiÍrito crítico de seus alunos. Será preciso que nossos professores tenham coragem de dizer que não sabem resolver um problema, mas que irão pesquisar – seja nos livros ou no Google – e, em poucos minutos, juntos e com esprito crÍtico, acharão as informações que buscam.

A realidade hoje mostra que, com raríssimas exceções, os professores ensinam da mesma maneira que seus professores ensinaram. Professores não mudam sua maneira de ensinar se não sentirem necessidade, se não estiverem motivados e não forem ajudados a mudar. Resistem a todas as mudanças porque não sabem o impacto delas sobre seu dia a dia… É muito cômodo ensinar todos os dias lendo o \”Power Point\”.

E estarão os professores – da educação infantil até a universidade – discutindo com seus alunos conceitos relativos a valores como respeito, ética, solidariedade, cooperação, inclusão social, meio ambiente e muitos outros que formam um cidadão que vai contribuir para um mundo melhor?

A Medida Provisória do Ensino Médio procura possibilitar que novas experiências sejam feitas pelos professores que terão que mudar sua maneira de ensinar para um ensino que seja centrado nos seus estudantes.

Haverá uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e cinco itinerários formativos que possam atender à multiplicidade de interesses e expectativas dos alunos. Serão trilhas de aprendizagem, cuja função será formar melhores cidadãos e preparar o jovem para o mercado de trabalho.

professor tem que acreditar que, dentro dele, há o DNA da inovação e que terá que guiar seus estudantes por uma trilha que, se não os levar para a universidade, poderá levá-los para um excelente trabalho, onde serão úteis para a sociedade e poderão fazer a diferença.

A experiência e a vivência que tiverem no ensino médio (em aulas de educação física, artes, filosofia, sociologia) os conduzirão para uma formação integral, mais humana e feliz.

A aprendizagem por projetos, a partir de temas transversais, como alimentação, diversidade, inclusão social e muitos outros, criará condições para a formação de cidadãos globais, que constroem pontes e melhoram o mundo.

Por que será que muitos acham que todo mundo deve ir para a universidade?

Se os estudantes tiverem aulas com professores competentes e que incorporem essa nova maneira de ensinar, adquirirão a teoria necessária para trabalhar em projetos orientados por profissionais, no caso dos cursos técnicos, de \”notório saber\”, que possibilitem a prática que os leve a uma formação técnica e profissional competente, que promova o desenvolvimento econômico do país.

A Medida Provisória do Ensino Médio pode não ser ideal e terá que enfrentar as dificuldades que aparecerem. Mas, com certeza, ajudará a melhorar o nosso ensino.


*Reitora do Centro Universitário IESB, Mestrado e Doutorado em Currículo e Ensino, pela The Pennsylvania State University, Pós-Doutorado noInstituto Max-Planck de Berlim, Alemanha. Ex-Professora da UnB e da Unicamp. Coordenadora de Programas para introduzir inovação noensino das Universidades Públicas e do PAIUB %u2013 Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras.

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