Isaac Roitman, professor emérito da Universidade de Brasília e presidente da Comissão do Movimento 2022: \”O Brasil que queremos\”, escreve para o Blog da Política Brasileira*
A humanidade está em retrocesso. Presenciamos um interminável circo de horrores – atentados, assassinatos, imigrações, guerras, crianças morrendo por desnutrição e outras mazelas do nosso discutível mundo civilizado.
No Brasil convivemos com uma escandalosa injustiça social e uma corrupção explícita onde até a vergonha foi jogada pelo ralo. Vivenciamos uma crise de valores morais e uma escassez de líderes dispostos a superar esse momento trágico.
É preciso destacar e exaltar a importância vital do surgimento de lideranças autênticas e genuínas para a construção de um novo tempo, que nos faça sair da senda da desgraça a que hoje nos submetemos.
Líderes fictícios
Nossos líderes, na sua maioria, não estão à altura para superarmos as crises que vivemos. Focados nos interesses pessoais ou de grupos, não titubeiam diante das repercussões inadequadas de suas ações. Uma pergunta então emerge: O poder corrompe?
O poder é, ou deveria ser, um instrumento para o bem comum. Assim as pessoas investidas no poder devem ser honestas e de caráter firme para não se deixarem corromper, nem promoverem a corrupção. A corrupção e a desonestidade não rondam apenas os escalões mais elevados do poder.
Na atual conjuntura brasileira o cidadão se vê desprotegido, violentado e lesado nos seus direitos, ameaçado por quem o deveria proteger. O mau exemplo das autoridades é corrosivo e induz à corrupção.
Na busca das lideranças
A liderança é um talento que precisa ser identificado e desenvolvido. Howard Gardner define talento “por um arranjo complexo de aptidões ou inteligências, habilidades instruídas e conhecimento, disposições de atitudes de motivações que predispõem um indivíduo a sucessos em uma ocupação, vocação, profissão, arte ou negócio”.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 4% das crianças e jovens apresentam altas habilidades gerais ou específicas. No Brasil não é fácil a identificação de crianças e jovens com talento de liderança pois a educação brasileira é feita com um tratamento homogêneo dos estudantes, sem reconhecer a diversidade entre eles.
Em adição, as políticas para a identificação e desenvolvimento de talentos no Brasil são incipientes. Especialistas no campo da educação de talentos apontam que a identificação precoce do talento é importante.
De maneira geral as escolas não dispõem de recursos e não têm um corpo docente adequadamente preparado para prover os desafios acadêmicos, sociais e emocionais para proporcionar o desenvolvimento das lideranças.
Quatro dimensões são consideradas importantes para aferir o potencial de liderança: o autodesenvolvimento, a habilidade no relacionamento interpessoal, a visão sistêmica e senso crítico e a responsabilidade. Essas características se manifestam e podem ser percebidas nos primeiros anos de vida e devem ser desenvolvidas no ambiente escolar.
A tendência da aprendizagem ser baseada na discussão de temas e resolução de problemas pode ser considerada como um cenário adequado para o exercício do pensar e da crítica argumentativa. Uma correta visão de um mundo civilizado e o estímulo ao conhecimento geral seriam pré-requisitos para a formação de nossos futuros líderes.
Um ambiente de total liberdade de diálogo e de expressão de pensamentos é absolutamente fundamental para o estímulo na formação de lideranças. Romper com a falsa verdade de que alguém é o dono das verdades e diminuir a importância de seu próprio “eu” também deve fazer parte de um ambiente para a formação de novas lideranças que nos conduzam a um novo Brasil sem desigualdades sociais, em que todos os brasileiros e brasileiras possam realizar os seus sonhos.