2020 com Ciência e consciência

Por Isaac Roitman, professor emérito da Universidade de Brasília, para o Monitor Mercantil, 30/12/2019

 

O ano de 2019 não vai deixar saudades. Os indicadores sociais revelam um retrocesso, com mais brasileiros vivendo na pobreza, desemprego nas alturas e um dicionário de mazelas em todos os segmentos da sociedade. A Ciência brasileira, que sempre teve um desenvolvimento com altos e baixos, agora passa por um momento de turbulência extrema, com cortes de bolsas, cortes de verbas, evasão de cérebros e outras sequelas que comprometem o nosso futuro tanto no campo social como econômico.

Ao longo dos tempos os frutos da ciência exercem grande influência na nossa vida cotidiana. Ela possibilita avanços nas áreas da saúde, da alimentação, do ambiente, da tecnologia, da energia etc., contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das populações consolidando a sociedade nos avanços econômicos, culturais e intelectuais. Ela contribui para enfrentar novos desafios, cria conhecimentos e melhora a educação e a qualidade de vida das pessoas reduzindo desigualdades e construindo pontes.

 

Aqueles que olham com miopia não sabem da condenação histórica a que serão submetidos

 

Defender a Ciência é defender o futuro. Aqueles que olham a Ciência com miopia não têm a consciência da condenação histórica a que serão submetidos. A esses sugiro relembrar o pensamento de Confúcio: “Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros”.

A ciência brasileira foi institucionalizada pela criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no início da década de 50 do século passado e vem apresentando progressos marcantes. Podemos nos orgulhar de cientistas brasileiros que deixaram como legado contribuições marcantes. Entre eles, Alberto Santos Dumont, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Celso Furtado, Joahana Dobereiner, Milton Santos, Ruth Nussensweig, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Maria Deane, Bertha Becker, Paulo Freire, Cesar Lattes, Otto Gottlieb e Mario Schenberg.

Temos instituições científicas respeitadas internacionalmente como o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Temos mais de uma centena de Sociedades Científicas coordenadas pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que tem estreita parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) em defesa da Ciência brasileira.

Além disso, temos um fantástico capital para o futuro, representado pelo Programa de Iniciação Científica, capitaneado pelo CNPq, o maior do planeta, com a participação de mais de 100 mil estudantes universitários e de ensino médio.

Com essa história e com esse seu potencial, vamos deixar a ciência brasileira despencar ladeira abaixo? A resposta definitivamente é não. Em vez de propostas sem sentido como a fusão do CNPq com a Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (Capes), vamos fundir a Ciência com a consciência para darmos oportunidade a todos os brasileiros e brasileiras de serem felizes orgulhosos de serem brasileiros e brasileiras. Vamos lutar para termos um grande e virtuoso desenvolvimento científico e tecnológico no ano de 2020 e nos anos seguintes. Vivas aos cientistas brasileiros e vivas à Ciência brasileira.

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