De Dioclécio Campos Júnior para o Correio Braziliense, 12⁄12⁄2019
O conceito legítimo de riqueza corresponde ao conteúdo espiritual que uma pessoa deve possuir. Não significa acúmulo de dinheiro nem fortuna de bens materiais, síntese da visão distorcida e impertinente que tomou conta da sociedade humana. Seus malefícios prejudicam sensivelmente a maioria das populações do planeta. As elites materialistas, marcadas pela ganância financeira, consolidam o poder dominante. Acumulam o que entendem como riqueza, independentemente de uma honesta origem do seu patrimônio material.
Aliás, Karl Marx já afirmara que toda fortuna pecuniária nasce do roubo. Em outras palavras, sem o roubo não há fortuna. E mais ainda, na sabedoria popular registrada em latim, \”pecunia non olet\”, ou seja, dinheiro não tem cheiro. Vale dizer que o dinheiro não tem como revelar a origem.
O culto da riqueza assim concebida é a modalidade de religião sub-reptícia que toma conta do mundo. O dinheiro é a grande divindade que seduz fiéis de todas as classes sociais. O seu decálogo estabelece: 1 – Amar ao dinheiro sobre todas as coisas e ao próximo como escravo; 2 – Maximizar sempre o lucro; 3 – Realizar megaespetáculos rentáveis, aos domingos e festas de guarda; 4 – Banalizar maternidade e paternidade; 5 – Usar armas de fogo; 6 – Desprezar a castidade; 7 – Valorizar a estratégia do roubo; 8 – Dissimular a inverdade; 9 – Apoiar pensamentos impuros; 10 – Cobiçar, de alguma forma, os bens alheios.
Essa fé, que dificilmente será revertida, aumentará cada vez mais a degradação da vida social. O único e verdadeiro significado da riqueza é a essência espiritual da mente humana. Seus princípios cósmicos e universais sobrepõem-se aos limites da materialidade. São a fonte da harmonia psicossomática que fundamenta o perfil comportamental indispensável ao bem-estar físico, mental e social do ser humano. Quanto mais se amplia a espiritualidade, menor é a dependência do consumismo materialista; quanto mais se respeita a alma de cada um, as relações humanas assumem a dimensão que possuem; e quanto mais se valoriza o próximo, mais se consolida o altruísmo, cuja energia renovável é oriunda da mente e voltada para o outro ser humano.
O espírito não é produto de recursos monetários nem tampouco de bens materiais. A substância que mantém sua dinâmica é pura e de natureza imaterial.
Desprezar a grandeza espiritual de cada pessoa é blindar a autêntica origem da espécie Homo sapiens. Não há nenhuma razão válida para fazê-lo, a exemplo do que ocorre no império materialista em vigor no mundo inteiro. As populações que não se deixam dominar por tão nefasta morbidade são cada vez menores. Se as classes dominantes não forem capazes de rever suas absurdas e desumanas crenças, as desigualdades sociais serão ilimitadas e a espécie não poderá mais sobreviver. As próprias religiões podem ser conduzidas por líderes cujas visões nem sempre priorizam a defesa do espiritualismo como princípio da conduta moral e ética que a sociedade merece.
A espiritualidade não é, pois, religião nem produto a ser vendido por empresas religiosas. Já faz parte do ser humano ao nascer. Se o recém-nascido for devidamente acolhido, com ternura e afeto estimulante, seu sistema mental entrará em fase de desenvolvimento da espiritualização, que será a base de sua personalidade verdadeiramente humanista.
Em síntese, a energia espiritual, se tratada com a sublime dignidade que lhe cabe, unificará as pessoas na prática construtiva de uma sociedade justa, pacífica, serena, igualitária e respeitosa; e ampliará o crescimento das relações humanas entre seres dotados de grande potencial fraterno. Só assim será possível superar as iniquidades sociais decorrentes de um modelo econômico centrado nos interesses pecuniários e imposto às populações. É a luz que precisa ser acesa no final do tenebroso túnel que está sendo atravessado na etapa atual da história da humanidade.
A reversão do modelo capitalista do consumismo condicionado é uma medida a ser adotada em favor da existência saudável das novas gerações. O culto da riqueza espiritual deve ser progressivamente retomado a fim de que a inteligência reflexiva de cada ser humano configure a convivialidade altruística, a ser considerada como alma insubstituível da sociedade. Não há outra perspectiva que possa assegurar a superação das desigualdades sociais e econômicas, geradas, de forma insensível, pelo poder da riqueza monetária sustentada pelo roubo, escravismo e corrupção. É a hora e a vez da espiritualidade humana.